Entrevista exclusiva: Mons. Julio Endi Akamine, SAC
Caros leitores, publicamos, em primeira mão, entrevista exclusiva concedida pelo Monsenhor Julio Endi Akamine, SAC, nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo, especialmente ao Blog Diálogo Vivo.
É uma grande alegria poder cobrir esta nomeação e ainda mais contar com a rica colaboração do bispo nomeado na construção de um diálogo vivo, em defesa da fé e da verdade.
No diálogo estabelecido com Mons. Julio muitos pontos foram abordados e apresentamos aquilo que ousamos chamar de primeiros apontamentos pastorais do futuro bispo. É com certeza uma grande contribuição para todos nós, homens e mulheres engajados na luta pelo bem.
“Garanto minha firme disposição de fazer o bem sem me cansar.”
DV: Nas entrevistas concedidas após a nomeação do dia 04 de maio, o senhor citou dois sentimentos: o de responsabilidade e de alegria exigente. Basear-se-ão nestes as linhas mestras de seu episcopado? Qual o lema escolhido?
Recebi a comunicação de minha nomeação no tempo da páscoa. Ora, corresponde ao espírito da páscoa a alegria cristã. Mesmo tendo consciência da responsabilidade que o encargo episcopal traz a tira colo, procurei ver nesse chamado do Papa um convite à alegria. Com efeito, a alegria do cristão não se desliga do paradoxo da cruz e da ressurreição nem é simplesmente uma promessa para depois da morte. Ela se dá na própria cruz, em meio às dificuldades e limitações da vida. Por isso, nas primeiras entrevistas falei de alegria exigente: o episcopado é uma grande responsabilidade que eu aceito como um privilégio, um dom e um convite para crescer no amor a Deus e aos irmãos.
Para escolher o lema, parti do fato de que fui nomeado Bispo auxiliar de São Paulo. Por isso, procurei nas cartas de Paulo uma frase que pudesse me guiar no serviço que estou para assumir. Encontrei na Carta aos Gálatas a exortação: “não vos canseis de fazer o bem” (6,9). Para Deus, nenhuma iniciativa de bem, nenhum ato de bondade e de solidariedade é em vão. Deus recolhe, em sua misericórdia e amor, todos os nossos sorrisos e nenhuma lágrima, que cai de nossa face, lhe escapa. O Pai vê e reconhece o bem que realizamos por causa de Cristo e em seu nome. O bem que fazemos, mesmo que não seja reconhecido pelos outros, está destinado à glorificação da ressurreição. Crer na ressurreição da carne significa crer que no Pai nós não só daremos o nosso último respiro, mas que nEle encontraremos toda a nossa história glorificada e transfigurada na história de Cristo. Crer na ressurreição da carne significa crer que o Pai ama o bem que fazemos e que ele tem valor eterno. Aos meus irmãos e irmãs da Região Episcopal da Lapa, garanto minha firme disposição de fazer o bem sem me cansar.
DV: O senhor morou com sua família algum tempo em São Paulo. Retornou para lá como Provincial dos Palotinos e agora permence na Metrópole como bispo responsável pelo Regional Episcopal Lapa. Conhecendo a cidade de São Paulo, quais os desafios que espera encontrar nesta nova missão?
Sua pergunta me faz perceber que o primeiro grande desafio será o de conhecer a realidade pastoral da Arquidiocese de São Paulo, especialmente a da região episcopal Lapa. Mesmo morando em São Paulo desde 2008, mesmo tendo meus familiares e a maioria de meus parentes residindo nesta cidade, não tive a oportunidade de trabalhar na pastoral da Arquidiocese. Passei a maior parte de minha vida no Paraná, onde fui formado e onde trabalhei na pastoral, no seminário e no ensino da teologia. Em São Paulo, dediquei-me completamente ao governo da Província São Paulo Apóstolo (Padres e irmãos palotinos). Poderia citar alguns números (população, número de paróquias, de padres, de casas religiosas), mas isso não é conhecer. É simples informação que pode ser obtida no site da Arquidiocese. Por isso, além de aprender a ser Bispo, tenho a necessidade e a oportunidade de mergulhar de corpo e alma na Arquidiocese de São Paulo.
DV: Encerrou-se no dia 13 passado a 49ª Assembleia Geral da CNBB, da qual o senhor participou alguns dias. Como foi a experiência de estar junto do colégio episcopal brasileiro neste momento de decisões tão importantes para a Igreja do Brasil?
Foi tudo novidade para mim. Fiquei impressionado pelo número de bispos participantes, pela diversidade e sadio pluralismo da Igreja Católica no Brasil, pelo trabalho da CNBB e pelos seus contatos com as instituições do país. É difícil para mim fazer uma avaliação dos avanços ou dos retrocessos. Mas a minha impressão foi positiva.
DV: Quais são os sentimentos ao deixar a Sociedade do Apostolado Católico, na qual o senhor foi formado e exerceu por mais de 20 anos o ministério sacerdotal?
Não deixo a Sociedade do Apostolado Católico. É claro, que deixarei de viver na comunidade palotina, mas continuo membro dos palotinos: de fato e de coração. Fico triste ao saber que provavelmente não terei contato frequente e cotidiano com meus coirmãos, mas quero aproveitar as saudades para procurar estar unido na oração aos que carrego no coração e na memória.
DV: Que papel o senhor atribui aos meios de comunicação, sobretudo a internet, nestes tempos de “Nova Evangelização”, como definiu o papa Bento XVI ao criar um Pontifício Conselho?
A Igreja sempre foi protagonista no uso dos meios de comunicação. Se pensarmos bem, o sino é um exemplo de instrumento de comunicação que a Igreja soube usar muito bem para convidar os fiéis para a missa, para informar sobre falecimentos, batismos etc. Todos da aldeia ou da cidade conheciam, pelo toque do sino, o que estava acontecendo. Creio que as novas tecnologias da comunicação são um instrumento valioso para a nova evangelização. Além disso, o próprio modo como a Igreja usa os meios de comunicação já constituem uma evangelização. O uso dos meios de comunicação para evangelizar não tem o objetivo de convencer as pessoas. A evangelização através dos meios de comunicação não deve cair na tentação de querer vencer as pessoas com uma linguagem eficaz. O Evangelho deve permanecer o que é: uma proposta humilde e respeitosa que não viola a liberdade nem se impõe através de uma linguagem eficaz de convencimento.
DV: Monsenhor Julio, o blog Diálogo Vivo agradece imensamente esta entrevista. Nosso Blog cobriu a nomeação do senhor e, em duas semanas, atingiu a marca de duas mil visitas. Pedimos que deixasse uma mensagem aos nossos leitores.
O Cardeal D. Odilo Scherer observou que sou o primeiro nipo-brasileiro nomeado bispo e que essa nomeação manifesta a missionariedade da Igreja. Concordo plenamente com ele. Sou neto de imigrantes japoneses. Meus avós partiram de Okinawa e vieram ao Brasil em 1930, trazidos pelo navio "Plata Maru". De Santos, embarcaram no trem que os trouxe até a hospedaria dos imigrantes, no Bairro do Braz e, depois, foram, também de trem, para o interior de São Paulo. Meus avós vieram ao Brasil em busca de riqueza. No Japão, eles tinham lido num panfleto: "No Brasil, há uma árvore com frutos de ouro. Basta estender a mão para colhê-lo!". Aqui, eles não encontraram a riqueza que lhes tinha sido prometida. Encontram, porém, outra árvore: a árvore da cruz e da vida. Meus avós, talvez, nunca teriam conhecido o Cristo se não tivessem vindo ao Brasil e se não tivessem encontrado aqui cristãos que testemunharam, de maneira viva, a beleza e a felicidade da fé em Cristo. O que sou hoje e o que sou chamado a ser para a Arquidiocese de São Paulo, eu o devo aos cristãos que trouxeram meus avós e minha família para a fé. Assumo e abraço essa dívida como dívida de amor. Desejo fazer dela o impulso e a motivação para o apostolado e o serviço que assumo com o episcopado.
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Comentários
Pe.Julio, que Deus o ilumine, proteja e guie, para ser um Pastor segundo o modelo, Jesus Cristo.
Marilena.
Silvana
É seu esse blog, Edvaldo?
Indiquei pra várias pessoas que ainda não conheciam o Julio.
Eu torço muito pro futuro Dom Julio.
A igreja já ganhou com essa nomeação. Nós vamos somente ver o resultado agora!
Parabéns!