Diálogos Compartilhados
Estimados leitores do 'Diálogo Vivo', o artigo que segue foi-nos compartilhado pelo colega José Macedo, de Portugal, para especial publicação neste blog! Vale a pena ler!!
Natal, um tempo de esperança
Aproxima-se a época de Natal, cuja cultura é de uma beleza e de uma ternura que não tem paralelo no calendario social do ano. É certo que a vida pessoal e social é feita de muitas facetas, de tantas que nem lhe sabemos a conta e todas elas importantes. mas nehuma é tão intima e tão bela como a ternura da época do Natal. Para além da beleza dessa ternura e dessa intimidade, que tornam o Natal humanamente irresistivel ao coração humano. Há ainda um outro aspecto muito importante que faz parte dessa cultura de Natal, a esperança, que nos faz sair para alem dos horizontes de nós mesmos. O Natal é também um tempo de esperança que nos torna mais otimistas.
Não sei esta esperança existencial é apenas fruto da inculturação religiosa ou se um traço comum e estruturante de todas as culturas, como diria Levi-Straus. É verdade que a influência religiosa é muito determinante na cultura. Deva-se (e da-se, penso eu) muita importância ao significado cultural da esperança messianica no tempo que precedia o Natal, o tempo do Advento. Durante séculos o povo Hebreu suspirava pela vinda de um messias que o viesse libertar das suas humilhações. Com imagens poéticas muitos sugestivas, a esperança da vinda do messias era comparada à sede de orvalho que a terra árida (como a deles, na Palestina) tinha.
É literalmente bonita a imagem poetica das manhãs de primavera com as folhas das plantas rasteiras cheias de pequenas gotas de orvalho ao luzir do sol doirado que nasce e que à medida que o calor do sol aumenta, vão desaparecendo para se transformarem em seiva resfrescante dessas mesmas plantas. É conhecida também, como um postal ilustrado de beleza, a imagem poetica das rosas com gotas de orvalho, simbolizando as lágrimas de amor ou os desejos de amor. Quer dizer que não era só o coração humano
que suspirava pela vinda do messias, mas toda a criação, no dizer do épico de Teilhard de Chardin, suspirava pela benção de um orvalho que a revitalizasse. Do desejo pessoal e colectivo de um messias, passa-se a um desejo cósmico: o desejo de uma nova humanidade e de uma nova terra. O desejo de uma felicidade que não se sabe definir, porque não cabe em nenhuma definição.
O que sabemos desta esperança existencial é que ela é patente, ela vive-se e sente-se por altura do Natal por crentes e não crentes, ainda que de formas e representações diversas e apesar da actual perda de praticas religiosas e mesma da perda de sentido de vida. Trata-se de um sentimento forte que continua vivo nos corações, nas cidades ou nas aldeias, pessoalmente e socialmente e mesmo sob formas que se poderiam dizer laicas, alheias a qualquer expressão tradicional de religiosidade.
Sabemos tambem que a esperança se funda sempre num desejo de coração, na aspiração de algo que conhecemos ou intuimos, ainda que vagamente, na aspiração de um bem que sentimos real e necessario na nossa vida, funda-se sempre numa certeza. A esperança, pressupõe uma certeza, pressupõe a Fé. E a Fé uma uma forma de conhecimento que gera certeza. Não é uma forma lógico-dedutiva de conhecimento como a que usamos na ciência, mas é uma forma diferente de conhecimento pessoal que gera certeza.
Não ha esperança de felicidade sem acreditar que essa felicidade existe.E existe, onde? Existe, como?
Só pelos nosso meios de conhecimento não o podemos saber, porque um dos seus polos nos transcede. O que sabemos é que existe. E que está, ao mesmo tempo, em nós e para além de nós, como se os seus dois polos fossem os dois pés onde assenta o arco-iris transcendente. O nosso coração é um dos pés de apoio desse arco-iris; o outro está para alem de nós, transcende-nos. Mas, sabemos que existe. Se não existisse, então a nossa esperança não fazia sentido, seria uma alienação. E isso não pode ter acontecido a toda humanidade.
É esta esperança e esta certeza de um amanhã melhor que nos torna tambem mais confiantes e otimistas. O tempo de Natal é tambem um tempo de otimismo.
A esperança é tão reconfortante, tão poderosa, tão motivadora, tão alta que passa por cima dos muros das nossas dificuldades e reaparece sempre mais adiante, como a estrela polar que deixamos de ver numa curva do caminho e depois reaparece, tal como se descrevia nos bonitos contos de Raul Brandão.
A esperança, diz-se, é a ultima a morrer, se é que ela morre.Porque eu acho que ela não morre. Se morresse, que seria o homem sem esperança?
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