Corações de ferro: monstros ou heróis?
O cinema
americano é especialista em produzir longas que retratam a história clichê dos
seus patriotas salvadores de todas as guerras e vencedores de todas as
batalhas, nos quais os efeitos especiais valem mais que uma história de
mocinhos contra vilões, misturado ao doce de paixões impossíveis.
Uma grata
surpresa cinematográfica foi “Corações
de Ferro” (Fury no original, 134
minutos, 2014). É um filme com corpo e alma, intenso: seu foco não está no
conflito propriamente dito, mas nas lutas interiores de cada um dos cinco
personagens principais. O final da Segunda Guerra Mundial, no interior da
Alemanha rural é o pano de fundo para surpreender quem foi ao cinema esperando
mais um filme de pancadaria.
Dentre tantos
filmes em cartaz, muitos desprezíveis, este te leva a sair do cinema mais
interrogativo do que se entrou. O clima de tensão e pressão é dilatado pelo
cenário principal, o blindado Fúria. Ali dentro cai toda a razão humana, as
certezas morais, as memórias que dão fiança. Ali os sentimentos são soterrados
nos calabouços mais protegidos e acreditar em Deus torna-se missão para os
fortes. É o ser humano que vai à lama, ao mínimo de si, quando se vê obrigado a
matar ou a morrer.
A crueldade da
guerra pode ser lida na expressão de cada um: do inocente Norman (Logan Lerman) ao petrificado capitão Don (Brad
Pitt). A guerra que mata fora e dentro, que faz envelhecer 30 anos aquele
que nela lutou três semanas, deixa uma interrogação final: depois de tudo, os
tripulantes do Fúria e os outros combatentes, monstros ou heróis?
O filme recheado
de dilemas é um trabalho de primeira do diretor David Ayer, que contraria todas
as expectativas. “Ideais são pacifistas, a história é violência”: a cena da
última batalha contra os nazistas e o último diálogo entre o capitão e o novato
coroam a saga para dentro de cada homem. Um filme de guerra brutal, com sangue,
suor e morte, e sensível, com vida, fé e vontade, refletindo exatamente aquilo
que cada um traz dentro de si: a monstruosidade e a heroicidade do ser humano.
Vale o ingresso!
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