#JeSuisChalie? E por que ninguém é Baga?
Como tudo o que envolve exposição
e mídia nestes tempos de protagonismo instantâneo, de frivolidade e
superficialidade sem fim, tornou-se um vírus “bonitinho” a frase “Je suis
Charlie”. Com certeza você já viu isso em todos os cantos: placas, camisetas, charges...
O problema de tudo isso é que “Eu sou Charlie” virou mais um bordão irrisório,
bobo, insignificante.
O que significa ser Charlie?
Querem homenagear uma revista? Os mortos? Uma ironia inconsciente? O problema
é: todos querem ser Charlie sem comprometimento. Querem aparecer na rede social
como grandes engajados, mas não ousam lançar uma palavra contra os extremistas
islâmicos.
![]() |
Ataque a uma escola nigeriana / AFP |
Enquanto o mundo volta os olhos
para a França, muitos outros territórios são marcados com o sangue de milhares
de mortos pelo extremismo islâmico. Enquanto Paris e seu Charlie ganham
passeata dos líderes mundiais, os mesmos líderes e o resto do mundo esquecem de
Baga na Nigéria: os cartunistas franceses não foram e não são as únicas vítimas
da maluquice fanática.
No dia 3 de janeiro, o grupo
radical islâmico Boko Haram (que significa “a educação ocidental é pecado”),
matou mais de 2 mil civis da cidade
de Baga, sendo a maioria crianças, mulheres e idosos que não conseguiram fugir
diante da invasão. Segundo a Anistia Internacional, mais de um milhão de
pessoas já estão deslocadas dentro da Nigéria. E este não foi o primeiro ataque
do Boko Haram. Em agosto do ano passado, dezenas de cristãos foram queimados na
cidade de Madagali, norte da Nigéria. Conforme o governo nigeriano, só em 2014
o grupo vitimou mais de 3 mil pessoas e, desde 2009, mais de 12 mil foram mortos.
![]() |
Dom Ignatius Kaigama, Arcebispo de Jos |
Mas por que nada disso vira notícia?
Não há passeatas nem manifestações em apoio à Nigéria. Muito menos ações contra
os extremistas. Para lembrar ao mundo que muitos outros seguem morrendo, uma
voz se levanta naquele país: Dom Ignatius Kaigama, Arcebispo de Jos. Em
entrevista para a BBC, o apelo foi contundente: “Não se esqueçam de nós”. Para
ele, o mundo precisa agir de forma mais determinada para conter o avanço do
Boko Haram na Nigéria. Em entrevista ao programa Newsday, o Arcebispo lembrou que a Nigéria está desamparada e não
consegue conter os radicais.
Não sou contra louvar os mortos
inocentes da França. Eles precisam ser lembrados, juntos com milhares dos
quatro cantos do mundo, como sinais de que o fanatismo continua matando. Que
caia a máscara da falsa diplomacia, do bom mocismo que pede um diálogo com quem
não quer dialogar. Que caia nossa hipocrisia, que se enfrentem os terroristas
também onde as câmeras não conseguem gravar.
Comentários