Rimando...

VERDADE SEJA DITA


- Meu nobre, preciso confidenciar-lhe,
Para que a verdade seja dita:
Não há pior sensação.
Que pousar a pena sobre o papel
E o nada permanecer na mão.

Há desejo, mas não há paixão,
É o vazio prenunciando a frustração:
Como a mulata que passa e nem te da bola,
Ou a cantada que de tão usada não mais cola.

Há desejo, mas não há emoção,
É o imaginado sem imaginação:
Como um Michelangelo sem seu cinzel,
Não existiria Davi, faltaria o céu.

Há desejo, mas não há sentido,
É aquele passo acerca do abismo.
Como o garçom sem nenhum pedido
Ou o brejeiro sem seu cinismo.

Somente desejar não é válido,
O papel continuará sempre pálido.
Não existe nem sequer o traço,
Restando do tiro nem o estilhaço.

E a prepotente senhora, a ré,
Ri acomodada do homem refém.
Como se fossemos de má fé,
Fantoches articulados por ninguém.

Merecia-a uma fina lição:
Uma greve, uma paralisação.
Deixássemos de seu auxílio utilizar
Para ela sem ter o que fazer ficar.
Perceberia o valor que possui então
Entre ela e a mão, a colaborativa união.
Ficaria ela sem graça e utilidade
Em uma desalentada solidão.

- Meu caro, compreendo seu desafogar:
Poeta sem ela, lobo sem luar.
Mas devo fazer uma objeção,
Logo uma justa consideração:
Sem ela veríamos apenas a palma de nossa mão.

Teríamos o sol, mas não o bronzeado,
A primavera sem o jardim perfumado.
A garota de Ipanema sem o balançado,
Um Shakespeare deshamletizado.

É preferível entrarmos na sua manha,
Que termos de mendigar imaginação.
Antes sujeitos à sua façanha,
Que oco permanecer o coração.

- Até que sábia é sua proposição.
Sejamos prudentes nessa situação,
Analisemos sempre com atenção,
Para que não façamos tudo em vão,
E não despertemos sua indignação.
Dela com certeza o homem precisará,
Contudo, auto-suficiente sempre será.

- Mas esta nossa sadia discussão
Fez-nos esquecer o brinde de comemoração.
Deixemos esse assunto pra outra hora
E às alegrias mundanas voltemo-nos agora.
Largue as azeitonas para não dar indigestão
Empunhe seu copo, erga-o com decisão,
Admire o colarinho de dois dedos com moderação
E enfim desejemos saúde...

- À INSPIRAÇÃO!

* * *
Caros amigos leitores do Diálogo Vivo. Peço sinceras desculpas pelo atraso nas publicações. Conto com a compreensão de todos! Novos artigos estão saindo do forno! Aguardem!!

Cordialmente,
Edvaldo Betioli Filho

Comentários

Unknown disse…
que massa...esse foi o poema do quardanapo,,e aquele que eu queria inventa uma historia dai vc me corto??ushauhsuahusahsafico massa...parabenss

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