Um sete como outros setes...

Verde e amarelo – Um futuro pela frente


O que seria - segundo os parâmetros de uma sociedade marcada por convenções - mais aceitável neste momento em que passadas as comemorações da Semana da Pátria era escrever algo inflamado de patriotismo. Nada mais cabível que dissertar sobre o orgulho de ser brasileiro, ou então, exaltar as belezas naturais de nossa terra. Mas todo esse repertório seria muito repetitivo, uma vez que considerável número de notáveis já o fez, por exemplo, o maranhense Gonçalves Dias (não que eu queira igualar-me com os grandes) e Bilac com sua rigidez literária também o realizou. E tantos outros seguiram a mesma trilha. Não que estejam errados – como não estavam - mas é necessário mudarmos de personagens e até mesmo, se nossa ousadia for tal, permutarmos os cenários.

Lembram-se da épica narrativa da Independência (como não esquecer)? Dom Pedro, em seu esbelto eqüino branco, junto com companheiros sedentos por liberdade, grita, brada com a nobre espada apontando ao céu a imposição: ‘Independência ou Morte.'

Segundo a história, marcada nos livros e na vida política e social a partir daquele momento, tivemos a independência. E nós sabemos que todo o eufemismo empregado na bela cena da Independência esconde fatores muito piores. A partir da simulada deserção de Portugal, tivemos dilacerantes prejuízos, evidenciados na grande dívida contraída e na disfarçada dependência de outras nações.

A história evoluiu. Ou pelo menos foi isso que pareceu acontecer, porque muita coisa ainda parece estar como era antes. E todo aquele verde-amarelismo, como tudo indica, está de volta.
Em 1822 o Império (ou ao menos uma parte dele) estava alvoroçado com aquela novidade da dita não dependência. Anos mais tarde, em 1954 outra figura de nossa história mexeu com o orgulho dos brasileiros. O gaúcho Vargas criara a Petrobras, nadando na aprovação de um povo embevecido com as realizações de um governo tipicamente populista. Gritavam agora ‘O Petróleo é nosso’ mas no fundo, para muitos, repetia-se o grito de independência dado por Pedro I. Era o momento para termos o nosso próprio petróleo, já bem cotado no mercado externo, o ouro negro que poderia vir a substituir o ouro verde, desvalorizado depois da crise de 1929. Estava nas oleadas mãos de Getulio o futuro da nação: saber conduzir o Brasil rumo ao futuro sustentável. Explodia o verde-amarelismo, o orgulho de ser brasileiro.

Mais de 50 anos depois outro personagem da História entra no quadro da exaltação nacional. Operário sindicalista que não esconde suas origens (e nem teria porque escondê-las) é agora o novo responsável pela onda populista que há algum tempo é encontrado na praia Brasil, praia, aliás, que contém reservas petrolíferas jamais detectadas em território nacional. E como setembro é o culpado por ressuscitar o mito do Brasil Grande, explode novamente o verde-amarelismo, e com ele seus vícios e suas virtudes, muito semelhantes aos tempos de Pedro e Getúlio, tantas e tamanhas, que a nação brasileira parece nadar do pseudo bem-estar nacional.
Não é de se estranhar que tudo isso esteja acontecendo. Primeiro aqueles que acompanham o dia-a-dia dos três poderes percebem que algo está fora do lugar. As relações institucionais estão abaladas, tanto que surgiram acusações de estarmos vivendo sob um Estado Totalitário, em um Estado policialesco, em que tolhe adversários. Mera coincidência com tempos remotos? Não. Eis aí uma característica populista, onde forças se reencontram em uma superfície, mas sempre estiveram fossilizadas juntas, abaixo da camada do pré-sal da classe política. Trocando em miúdos, há muito mais coisas, pessoas e interesses por trás dessa crise institucional e o que poderia ser mais trágico, muito mais podridão atrás de toda essa especulação sobre as descobertas petrolíferas na camada pré-sal.

Eis aí um segundo aspecto do Brasil Grande e do populismo tradicional. A propaganda para engrandecer sem sair do lugar. A marqueteira operação do início da retirada do petróleo abaixo da camada de pré-sal faz com que, assim como na década de 50, bradássemos novamente: O petróleo é nosso. Mas ainda não é. Há um longo processo pela frente, talvez a chance de ver um Brasil crescendo com o dinheiro do óleo, fazer acontecer o sonhado por todos. E nessas horas vale até recorrer à fé, como disse o mandatário da república, que Deus continue habitando nosso país, para que a sorte esteja do nosso lado e não seja preciso, como disse o ministro Mangabeira Unger, “reforçar nossa tropa naval para dissuadir eventuais ameaças às riquezas petrolíferas brasileiras”.

No dia 7 de setembro de 1822, o filho de D. João VI proclama a independência brasileira, montado em seu esbelto cavalo. Em 1954 o filho dos pampas proclama o início da independência petrolífera brasileira. E em 2008, o filho do sertão proclama o clímax de um Brasil que produz. Mas vale a pena lembrar o que a realidade os reservou: que o primeiro acabou esquecido em Portugal e toda sua atuação não acabou trazendo os benefícios que efetivamente poderiam ter qualificado o país. O segundo, foi morto pelo totalitarismo que ele mesmo construíra, usando as mãos apontadas para o peito para dar fim a uma crise que colocara todas suas construções por terra; ele fez, mas talvez não da melhor forma possível. E agora Lula, surfando na alta popularidade, agraciado pela boa avaliação dos ricos e pobres, analfabetos e letrados tem o ouro em suas mãos (haja visto os altos índices do PIB) para proclamar de uma vez por todas a real independência brasileira.

Hoje, perguntando para muitos, D. Pedro I, com o famoso quadro da Proclamação da Independência estampando o Museu de mesmo nome em São Paulo, de nossa história é um herói. Getúlio Vargas, com a famosa carta testamento onde afirmava sair da vida para entrar na história, tornou, de seu povo órfão, um herói. E Luiz Inácio Lula da Silva, neste sete de setembro é saudado como herói. Espero somente (e também desejo) que este heroísmo seja deveras um ato de coragem, racionalidade, responsabilidade e prudência, para que ao invés de quadro ou de carta testamento Lula deixe muito mais que uma boa impressão daqui 50 ou 100 anos, mas que ele deixe, nos futuros setes de setembro, a real independência brasileira, onde teremos enfim, o verdadeiro orgulho de sermos filhos desta nação. Aí sim, escreverei para exaltar meu país. O que estarão em minha memória serão os erros, para que estes não cometamos mais, e as lutas, para que com estas aprendamos o quão sofrido foi chegar até onde chegamos. Aí sim escreverei inflamado de patriotismo, transbordando de verde-amarelismo, tentando bradar mais alto que os grandes escritores, o meu orgulho de ser brasileiro.

Mas enquanto isso não acontece, somente cabe a este pobre postulante rezar para que Deus aqui continue habitando sem necessidade de tropas navais, e, sendo cidadão, trabalhar para que este Brasil, país de todos, alcance verdadeiramente a independência.

Dado em Londrina (PR),
dia sete de setembro de 2008,
no 186° aniversário da Proclamação da Independência.
Edvaldo Betioli Filho
Postulante Palotino

Comentários

Anônimo disse…
Se me está reservado comentar e abrir o debate, antes de mais, parabenizo o autor, pela simplicidade de expressão e pela coragem de através de um simples blog, chamar a Nação e o Povo, para que clamem bem alto contra a insensatez de todos os governantes, que se alicerçam na ignorancia e no populismo facil de ludribriar um povo sério, faminto, simples, iletrado, corajoso, trabalhador...que nem ouvem e nem respeitam...mas..usam...
Parabens, Edvaldo, o Brasil pode confiar na juventude que possui..
Mas... nem tudo luz ou é luzidio como tua mente deseja e critica...
Hoje, e na globalização, as coisas não so tão evidentes...Hoje se pensa com os cifrões...(Euros ou Dollars)
Cada vez que um pseudo lider mundial, dessas Republicas desenvolvidas arrota um comentario, logo as bolsas de valor dão hecatombes que colocam as economias emergentes em panico...
nenhum PIB, Edvaldo se sustenta, se tiver fracos lideres politicos e corruptos...
E se o PIB oscila vem a inflacção, o desemprego e o aumento do custo de vida...
Por isso, Edvaldo, os politicos, como a experiencia nos mostra, não se assumem e muito menos se esfarrapam para resolver os problemas sociais..antes...canalizam as verbas para a propaganda simples...de ilusão social... para um povo...simplesmente, simples e que eles querem que continue..simples...abulico...apolitico.. (Passem as redundancias).
Quando o Brasil conseguir ter dirigentes..e isso depende das gerações futuras,de ti e teus companheiros, classe cultural e politicamente evoluidas, eu acredito no Vosso País..
Até lá...ter um lider populista, talvez carismatico, mas rondando um baixo grau cultural...o Brasil será sempre um eterno depende dos grandes capitais...
Sempre um País secundario e subalternizado...quando é o MAIS RICO DO MUNDO...
Patriotismo hoje rima com capital...Edvaldo...e se nos deixarmos levar pela critica facil....lá teremos os apontadores do Leninismo a dominar a razão e os baluartes da nossa educação e da nossa fé...
Parabens, pois, pela tua coragem...
Um abraço...
Jalma
Anônimo disse…
Ed...
Ainda e porque aludes a Getulio Vargas e ao petroleo e porque o fizeste no momento em que esse produto atingiu o ponto comercial mais alto, na minha precaria veia poetica..surgiu-me esta ideia...
Espero que se enquadre e que seja mais uma acha...
....
...
Sobe, sobe o Petroleo

Sobe... sobe o petroleo
Não sei aonde vais parar
Sâo muitas as familias
Que não te podem suportar

....

És um cancro maligno
De um percurso infinito Quem de ti está a tratar
Nem vê o povo aflito

....

Para os teus governantes
Passas ignorado
Cada vez ha mais povo
A viver amargurado

...

És balão de oxigénio
Não sei se vais rebentar
O povo ja não aguenta
Tu nasceste para o tramar.
Anônimo disse…
Não sei se neste blog cabe este "evangelho" ou até se o tema vem a proposito, mas como um blog é uma forma de comunicação...então falarei de blogs e internet...



SERENAMENTE.......


No I volume de "Memorias do Carcere", Camilo Castelo Branco fala de um prior dee Fafe (cidade minhota), "grande latinista, e discreto em castissima linguagem portuguesa", cujas "praticas eram floriadas de lusitanismos que lhe não seriam mais entendidos dos paroquianos que os ieroglificos de Mênfis". Recolhe tambem os comentarios de um barbeiro de Amarante a uns versos feitos para uma cavalhadas(rusgas a S.Gonçalo) por um individuo que "amanhou um palavriado que ninguem entendia. Os Fidalgos diziam que os versos eram de ciencia e obra acabada; mas o povo, a falar-lhe a verdade, estava de boca aberta,e ñ sabia aonde era o começo, nem o meio, nem o fim".
Referindo-se à forma como, nos seus começos, São Bernardo comunicava com seus religiosos, Abbe J. Luddy, recorda que se "dirigia a homens na linguagem dos anjos, o que lhes dificultava a compreensão das suas palavras" ( Bernardo de Claraval, Editorial Aster, p.51).



Falar e escrever são formas de comunicar. E quem fala ou escreve ou pretende comunicar consigo mesmo ou com os outros.
Se é a outros que se dirige, ha-de ter o cuidado de usar uma linguagem que os outros entendam.
No processo de comunicação existem o emissor e o receptor. Quem comunica transmite uma mensagem que pretende seja recebida pelo destinatario. Necessita, para isso, de usar um codigo que esteja ao alcance da pessoa a quem se dirige. Quem pretende comunicar com um cego certamente que não recorre à linguagem gestual.
É vulgar dizer-se que para ensinar latim ao João é necessario saber latim e conhecer o João. É indispensavel saber latim.É indispensavel ter que dizer. Possuir ideias claras sobre a matéria a versar. Mas é igualmente necessario conhecer o João para que se prepare o modo de como o fazer. Enviar uma mensagem escrita a um analfabeto...redigir uma mensagem cheia de galicismos (lingua galega) ao gosto de Eça de Queiroz, a quem mal sabe portugues...
Muitas vezes comunica-se mal - ou não se comunica - porque se não se procura conhecer o João. Cuida-se muito da preparação do tema mas não ha preocupação de refletir sobre as pessoas a quem o mesmo vai ser apresentado: ao seu grau de cultura, às suas necessidades, aos seus interesses e preocupações. Por isso acontece de haver pessoas
que durante um discurso desligam totalmente. Estão fisicamente presentes mas a pensarem noutras coisas ou a entreterem-se com outros centros de interesse.


A INTERNET E OS BLOGS SÃO BOAS E MODERNAS FORMAS D COMUNICAR, MAS É NECESSARAIO QUE OS TEXTOS QUE LA SE POEM INTERESSEM AOS DESTINATARIOS.
SE APENAS INTERESSSAM AOS SEUS AUTORES, NÃO PASSAM DE UM GESTO DE NARCISISMO, DE PURO EXIBICIONISMO, DE TEMPOE DINHEIRO MAL GASTOS.
No processo de comunicação o emissore deverá ter a consciencia de que está ao serviço do receptor. Deve sujeitar-se-lhe, isto é, utilizar uma linguagem e um vocabulario facilmente perceptiveis pelo destinatario da mensagem. Se esta não foi recebida pelo destinatario, não houve comunicação. Se o destinatario a recebeu de forma deturpada, algo tem de ser corrigido no acto com quem se pretendeu comunicar.
Um bom comunicador está atento ao feedback. Se este não existe, provoca-o. Deve procurar informar-se de como o que disse foi recebido por aqele para quem o disse.
Se o emissor aproveita a oportunidade para mostrar erudição pode comprometer gravemente a eficácia do seu trabalho. É como uma coisa é dizer ou escrever e outra, comunicar. Uma coisa é redigir um texto para uma revista de especialidade e outra, transmitir essas mesmas ideias num artigo de jornal ou internet (blog).Uma coisa é falar para um publico erudito e outra, dirigir-se a um auditorio de cultura mediana. E quando a assembleia a quem o comunicador fala é constituida por um auditorio heterogeneo, onde ha crianças e adultos, onde existem letrados ou semi-analfabetos, o comunicador não deverá ter o receio de nivelar por baixo, isto é, descer ao nivel dos menos letrados e dos menos capazes.
Não mostra sabedoria? Acredito.
Mas mostra que sabe comunicar, que sabe transmitir as suas ideias, e na circunstancia é isso que interessa.
Se as crianças entendem o comunicador, necessariamente, que tambem será compreendido pelos adultos. Mas o contrario pode não ser verdadeiro.

Ed.....
se entrosa no Blog fico contente...~
meu email:
jalmaa@sapo.pt

Jalma
Caro Jalma, peço desculpas por não poder responder antes. Aqui onde moro o tempo de internet é curto.
Agradeço suas contribuições e fique a vontade quanto a novos comentários. Eles só tendem a contribuir para este mínimo blog.
Cordialmente em Cristo!

Edvaldo Betioli Filho
Postulante Palotino

Postagens mais visitadas deste blog

A glorificação da mediocridade

Ordenação Episcopal Dom Julio Endi Akamine, SAC

Entrevista exclusiva: Mons. Julio Endi Akamine, SAC